terça-feira, setembro 05, 2006

Galvão Bueno


Texto do Caio Maia, do site Trivela."Cala a boca, Galvão". Durante a Copa do Mundo, por conta do trabalho só pude assistir um jogo do Brasil em casa com os amigos. Antes de começar a partida, perguntei em que canal queriam ver, e nem me dei ao trabalho de vetar o Galvão, já que achei que ninguém ia optar pela Globo. Para minha surpresa, deu Galvão de goleada. No tapetão, é claro, impus outro canal, afinal a TV era minha. Para mim, assistir futebol com o Galvão narrando é sempre uma experiência desgastante. Com freqüência, sente-se vontade de estapear o cara, tamanha a quantidade de lugares comuns e informações erradas que o narrador produz. Seria ingênuo, no entanto, achar que ele narra desta maneira por falta de inteligência ou de preparo. Ninguém chega a narrador principal da Globo sendo estúpido ou despreparado, e claramente não é este o caso de Galvão. Minha hipótese é a seguinte: ele narra assim porque é assim que o brasileiro gosta que ele narre. Nós brasucas queremos ouvir alguém dizer que é "uma ousadia" alguém pensar em pôr o Robinho no banco. E que Fabio Capello é um idiota porque vendeu Julio Baptista e quer vender Cicinho. Isso, preferimos ser enganados. Para não voltarmos muito no tempo, lembrando, por exemplo, da vez em que Galvão ficou minutos descrevendo uma contusão na perna esquerda de um jogador que mancava da direita, selecionei alguns dos melhores comentários do jogo deste domingo contra a Argentina:"Momento difícil para o futebol do Brasil", disse o narrador diversas vezes durante o jogo. Repare: um chute a gol da Argentina não é um momento difícil para a Seleção, mas para o "futebol brasileiro". Se fosse gol, clubes, jogadores, federações, todos sofreriam com isso."Faltava bom humor e alegria para a Seleção na Copa". Engraçado, e eu que pensei que faltasse futebol organização tática e humildade. É estranho alguém dizer isso depois de ter dito umas 500 vezes que o que faltou foi seriedade. Mas afinal, vou eu querer que o cara seja coerente?Aos 39, Cicinho perdeu um gol feito. "Não era fácil de fazer", diz Galvão. Não era fácil, era obrigação. Elano fez um mais difícil. Mas Cicinho, até aquele momento, ainda estava entre os "queridinhos". Aos 28, Robinho foi o Robinho que Galvão e a maioria dos brasileiros gostam, e perdeu um gol feito. Menos de um minuto depois, jogou futebol, sério: recebeu bonito passe de Daniel Carvalho, driblou com efetividade e chutou com força em direção ao gol. Não marcou, mas foi quase. Comentário de Galvão: "Taí o lado moleque do Robinho que a gente tanto gosta!" Não, não é isso, Galvão, é o contrário. O lado moleque é o que ele tinha feito no lance anterior, em que perdeu um gol feito.O fato é que, embora haja muita gente que gostaria que Galvão Bueno ficasse rouco para sempre, somos minoria. Repito: ele não diz essa quantidade enorme de groselha porque é idiota, mas sim porque é o que a maioria esmagadora quer ouvir. Pode acreditar.Importante: o texto ao lado não deve ser lido como uma crítica pessoal a Galvão Bueno. As observações se referem a um estilo, ao qual o narrador da Globo se filia. Coisas que só acontecem na Inglaterra: as pessoas respeitam os "um minuto de silêncio"!
P.S: Concordo em gênero, número e grau com a opinião do Caio Maia.